
Manguinhos vive um momento crítico em relação à coleta de lixo. O acúmulo de resíduos nas ruas e cursos d’água evidencia um problema maior: o racismo ambiental. Esse termo descreve como as populações pobres e negras são mais vulneráveis à degradação ambiental e à falta de infraestrutura básica, como saneamento, quando comparadas a áreas mais privilegiadas da cidade.
Em bairros nobres da Zona Sul, como Copacabana, Ipanema e Leblon, a coleta de lixo é regular, as ruas são limpas e varridas com frequência e os moradores têm acesso a serviços públicos de qualidade. Em contrapartida, nas favelas, a coleta de lixo é esporádica e feita de maneira ineficaz, resultando em montanhas de lixo que se acumulam nas vielas e calçadas. Manguinhos é um retrato dessa desigualdade: aqui, o lixo se espalha, comprometendo a saúde dos moradores.
Impactos na saúde da população
O acúmulo de resíduos sólidos nas ruas traz consequências graves para a saúde pública. A presença constante de lixo favorece a proliferação de pragas como ratos e mosquitos, que transmitem doenças como leptospirose, dengue e zika. Além disso, o lixo exposto contamina o solo e as águas, ampliando o risco de surtos de doenças infecciosas na comunidade.
Essa situação afeta diretamente o cotidiano dos moradores. Crianças brincam perto do lixo, aumentando o risco de contaminação; ruas ficam entupidas por resíduos que impedem a drenagem adequada, provocando alagamentos. Tudo isso cria um cenário de precariedade e insegurança para quem vive na região.
Racismo ambiental, uma questão estrutural

O conceito de racismo ambiental ajuda a entender como a ausência de serviços de saneamento básico em comunidades como Manguinhos não é uma simples falha do sistema, mas uma expressão de desigualdades estruturais. Historicamente, as políticas públicas voltadas ao saneamento no Rio de Janeiro beneficiam mais as áreas turísticas e ricas, enquanto as favelas são negligenciadas e sofrem de uma falta crônica de investimento e planejamento urbano.
“O problema do lixo em Manguinhos não é apenas uma questão de saúde pública, mas de dignidade e direitos“
O racismo ambiental se manifesta quando essas comunidades, formadas majoritariamente por pessoas negras e pobres, são excluídas dos projetos de infraestrutura que deveriam garantir condições básicas de vida, como a coleta regular de lixo e o tratamento de esgoto.
Contraste com a Zona Sul, um reflexo das desigualdades
Em bairros como Barra da Tijuca e Leblon, a coleta de lixo segue uma rotina rígida e eficiente. Campanhas educativas sobre separação de resíduos e reciclagem são comuns, incentivando a participação ativa dos moradores. As ruas limpas e a boa manutenção urbana são tratadas como prioridade, evidenciando o cuidado com o bem-estar dos habitantes.
Por outro lado, a realidade de Manguinhos é bem diferente. A coleta de lixo irregular e a ausência de programas de Educação Ambiental tornam os moradores reféns de um sistema que não os atende adequadamente. O contraste entre essas duas realidades ilustra como as políticas públicas de saneamento refletem a segregação socioeconômica da cidade.
O caminho para soluções
A crise de saneamento em Manguinhos exige uma ação urgente e coordenada do poder público. Investir em infraestrutura nas favelas e garantir a coleta regular de lixo são passos fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos moradores. Além disso, campanhas de conscientização sobre o descarte correto de resíduos são essenciais, embora a responsabilidade não deva ser exclusivamente transferida para a comunidade.
Uma mudança significativa só acontecerá quando o direito ao saneamento básico for visto como uma prioridade em todas as áreas da cidade, sem distinção. A inclusão de comunidades vulneráveis no planejamento urbano é essencial para combater o racismo ambiental e promover justiça social.
O saneamento básico é um direito de todos, e a solução para essa crise passa por enfrentar as desigualdades históricas que perpetuam o racismo ambiental nas favelas do Rio de Janeiro.