Sobrevoam a orla de Copacabana comunicando-se pelo olhar. A maior sugere pousarem num poste. Eram três da tarde, em um dia escaldante.
por Edu Soares (@mr.edu.soares)
— Consuelo, respeite seus limites. Está muito quente para voar à toa.
— Fiquei boquiaberta, digo, bicoaberta, Thuani! Nunca vi essa praia tão cheia!
— São tantas pessoas que parecem formigas!
— O que tem de tão bom na areia?
— Não sei. Essa gente sai de casa, pega ônibus, metrô, trem, enfrenta perrengues para chegar aqui e ainda tem que disputar espaço!
— Olha lá! Porrada! Ih, tá voando cerveja pra todos os lados!
— Normal nessa época! Aquele velhote de sunga vermelha olhou para a bunda da morena, disse alguma gracinha que ela não gostou e…
— Como você sabe disso?
— Sou cria de Copacabana. As figurinhas são sempre as mesmas.
— Se Gaivotávio disser alguma gracinha olhando para a traseira de outra gaivota, o bicho vai pegar!
— Como está pegando agora!
— Nossa! Que safanão! Eita, que soco! Vixe, que catiripapo! A mulher é boa de mão, hein! Mas, olha, roubaram as coisas dele! Vamos lá! Temos que intervir!
— Não, Thuani! Deixa que se entendam. Com 43 graus, não vou bicar ladrão. Nós só pescamos.
— Mas tá voando cerveja! Podemos aproveitar…
— Você é doida? Não sou gaivota de migalhas etílicas. E se for cerveja ruim? Ficar bêbada nesse sol é pedir para morrer antes da hora!
— Tem razão. Eles são estranhos. Saem da toca, lotaram a areia, deixam lixo em todos os cantos, cantam a bunda dos outros, caem na porrada e mesmo assim…
— Fazem tudo de novo no final de semana seguinte.
— É melhor ser gaivota.
— Definitivamente.
— Observando o caos.
— Como no Big Brother.
— O que é isso?
— Difícil explicar…sei que é popular, está na boca do povo!
— Mas e os arrastões, os assaltos aos turistas, os assaltos nos preços dos quiosques…
— Essa lista faz parte do cotidiano carioca. Você é novinha, tem pouca experiência. Com o tempo, vai perceber que eles reclamam, reclamam, reclamam e…nada muda no fim de semana seguinte.
— Um caos cíclico. Bateu fome. Vamos pescar?
— Bom, o mar não está para peixe. Está para gente. Não a gente, e sim a gente deles. Mas vamos lá!
