Sebastiana Araújo da Silva, a famosa Tia Lauzinha (apelidada assim carinhosamente por quem a conhecia), foi moradora de Manguinhos por mais de 50 anos, e era bem conhecida por ser uma mulher negra cheia de coragem e determinação

por Gabriel Guerra (@reporteguerra)


Tia Lauzinha, com todas as dificuldades da época da sua infância, não conseguiu ir à escola. Porém, sempre deu importância à educação e, buscando o melhor para os seus filhos, os incentivou a irem para o colégio.

Em 1986, criou o grupo folclórico de rodas e danças juninas “De Quina Para Cuia”, composto principalmente por crianças e jovens que antes viviam em situação de rua. Com eles, percorreu todo o estado do Rio de Janeiro fazendo apresentações.

No ano de 1998, o grupo encerrou suas atividades. Mas Tia Lauzinha deu prosseguimento ao trabalho com atividades culturais e recreativas, iniciando com o hoje famoso “Buteco da Tia Lauzinha”.

Tia Lauzinha ao centro
Tia Lauzinha ao centro

Com os ensinamentos adquiridos com a avó, Lauzinha começou a servir refeições feitas em casa por ela mesma, no intuito de ter uma renda extra para ajudar a filha, que naquela época estava cursando faculdade. Não demorou muito para conquistar o paladar e o coração dos clientes…

Assim, Tia Lauzinha logo se tornou famosa por seus deliciosos pratos e tira-gostos. Sua birosca cresceu e hoje, com quase 30 anos de história, se tornou um patrimônio cultural de Manguinhos. Sempre recheado com gastronomia da boa, rodas de samba, chopp gelado e muita alegria!

Homenagens merecidas 

Não bastasse o reconhecimento na comunidade, onde já era famosa e conhecida por todos, em 2015 Sebastiana recebeu uma moção de Reconhecimento e Louvor na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, uma iniciativa do então vereador Eduardão (PMDB) – uma honraria que, de forma mais que justa, reconheceu seu trabalho de responsabilidade social e cultural com a população de Manguinhos.

Em 2018, o coletivo artístico Experimentalismo Brabo, coordenado pelo poeta, palhaço e fotógrafo Leo Salo, lançou o cordel da Tia Lauzinha (veja trecho ao lado). A obra fez parte do projeto Memória de Manguinhos em Cordel, financiado pela Fiocruz, que teve como objetivo difundir e eternizar histórias e memórias de pessoas importantes de Manguinhos. Na época, cópias impressas do cordel foram distribuídas gratuitamente, o que ajudou a tornar a história dessa mulher espetacular ainda mais conhecida.

Personalidade e partida

Segundo quem a conheceu de perto, o traço mais marcante na personalidade de Tia Lauzinha era seu jeito conselheira. Contam, inclusive, que muitos que a conheceram, a chamavam de “mãe”, exatamente pela sua prestatividade e amorosidade. Seus conselhos e dicas ajudavam muitas pessoas que chegavam até o boteco que, até hoje, leva seu nome.

Em 2022, infelizmente Tia Lauzinha nos deixou, deixando um legado de força e coragem. Seu filho, Ricardo Araújo, que antes já ajudava no boteco aos finais de semana, agora comanda os negócios construídos pela mãe.

Em fevereiro de 2024, por conta de um curto-circuito, o Boteco da Tia Lauzinha sofreu um incêndio que o deixou totalmente destruído. Uma vaquinha logo foi realizada para reerguer o negócio que, além de muito querido pela população local, era o sustento da família. Graças à ajuda coletiva, o Boteco da saudosa matriarca está novamente de pé, com todas as suas deliciosas receitas, enchendo toda a rua Santana do Livramento de alegria, como sempre fez.

Dona Sebastiana, nossa eterna Tia Lauzinha, deixou uma história de superação e determinação, que nós, do jornal Fala Manguinhos!, fazemos questão de homenagear. Ela inspirava muita gente. Sua rica história inspira, até hoje, todos nós.

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